Tese sobre o cruzeirense

Um dia, em algum programa de televisão, eu ouvi o Kalil dizer que todo mineiro é gerado atleticano. Naquele instante sagrado e prazeroso em que o espermatozóide penetra o óvulo, ele automaticamente vira um orgulhoso atleticano. É rápido assim como um estalar de dedos. A partir daí ele vai crescendo dentro da barriga da mãe e, quando começa a sonhar - sim, em algum momento o feto sonha - ele já se visualiza empunhando uma bandeira preta e branca como se fosse um estandarte ungido pelos deuses.

E dissertando ainda mais sobre a sua tese - que para mim, é um foco de luz sobre a ciência humana, digna merecedora de um Prêmio Nobel, Kalil conclui: Quando a criança nasce, a coisa muda de figura, pois apesar de milhões permanecerem apaixonadamente torcendo pelo Galo, outros tantos se perdem pela vida, se desviando do bom caminho. Nessa leva de espíritos fracos e subornáveis, alguns gatos pingados se tornam americanos e alguns outros chegam ao cúmulo de trair o aconchego atleticano do útero que os concebeu e se transformam - que o bom Deus os perdoe - em simpatizantes de certo time azul de estrelinhas graciosas.

Nesse ponto é que vão entender porque iniciei este comentário tomando a tese do Kalil como base. Eu descobri que... pasmem, senhoras e senhores... todo cruzeirense continua sendo, no fundo, um atleticano! Ele segue com o gene em seu sangue mesmo depois de nascido!

Calma. Não precisam me xingar disso ou daquilo. Cientificamente, é tão fácil provar quanto dois e dois são quatro. Não precisei perder noites e noites de sono consultando alfarrábios, livros de genética, estudos profundos da psicologia nem da alma transcendental. Foi apenas e tão somente um acaso. Explico:

Outro dia, fui a uma festinha de um cruzeirense amigo meu. Como ele, mais uns quatro ou cinco. Eu era o único atleticano naquele quadrilátero cheio de infelicidade e ranger de dentes. A certa altura, depois de algumas cervejinhas, salgadinhos e conversas jogadas fora, o assunto entre eles - eu só ouvia calado - enveredou para o futebol. De repente, dei por mim inserido em um mundo surreal. O assunto principal da noite não era o Cruzeiro com as suas estrelinhas graciosas, nem as suas contratações, nem o seu time classificado para a Libertadores. O tema era o Atlético. A mídia mineira é atleticana, tal comentarista da TV é galista, as contratações não vingarão, o time vai cair novamente para a segunda divisão e por aí afora. Enfim, noventa por cento do que se discutiu ali era relacionado ao Galo, embora, para disfarçar, usavam um tom de deboche e gozação que não foi capaz de me enganar, ah, não senhor! Não sou tão ingênuo assim!

Saí dali mais convencido do que nunca de que a palavra ATLÉTICO é tão doce e tão gostosa de pronunciar que o cruzeirense, ao pronunciá-la, se remete mentalmente - como numa catarse - ao útero materno, quando ainda era um verdadeiro atleticano e o caminho ainda era O bom caminho. Eu aposto todas as minhas fichas que, se qualquer cruzeirense se submeter a uma regressão com um psicólogo competente, em algum momento de sua viagem mental se verá encolhido em uma posição fetal e sob aquela pele rugosa e quase transparente verá bater - com toda força, como se fosse uma orquestra de mil instrumentos - um coraçãozinho preto e branco. E nesse exato instante, sentirá uma onda de felicidade tão grande que é bem capaz de abandonar o boquiaberto psicólogo em sua sala e sair pulando de alegria pelas ruas da cidade, quicando feito um ioiô. Neste caso inverossímil, provavelmente correremos o risco de a qualquer hora topar com um feto meio doido passeando por aí, gargalhando igual aos personagens de Hitchock. Mas um feto essencialmente feliz e isso é o que mais importa.

Para quem ainda duvida da tese, comece a reparar mais à sua volta, quando à sua volta estiverem os azuis. Note que eles, ao abrirem uma página de esportes, primeiro lêem as notícias sobre o Galo. TODAS as notícias. Eles sabem mais sobre o Galo do que nós. Perceba que nós atleticanos mal folheamos as notícias sobre o Cruzeiro. Eu mesmo nem as leio. Se isso não é a confirmação da verdade sobre a tese que lhes apresento, eu não sei mais o que é verdade nesse mundo de Deus.

Só mais uma coisa, que é pra sacramentar de uma vez por todas a minha tese:

Se a sua esposa é cruzeirense, quando ela estiver dormindo, experimente sussurrar a palavra GALO ao seu ouvido. Use um tom bem leve, como se estivesse acarinhando um bebê. Mais ou menos assim: Gaaallllooooo! Bem baixinho. Não se surpreenda se um sorriso bonito coroar-lhe a boca. Ao ver o sorriso, não se entusiasme a ponto de berrar um Galo de todo tamanho, pois para o plano dar certo, ela precisa continuar dormindo

Posso garantir que no dia seguinte, ela dobrará a sua querida camisa do Galo com um carinho que você nunca tinha visto antes. Se você persistir nesse tratamento durante alguns meses, você terá uma família muito mais feliz, muito mais atleticana. Isso é o supra-sumo da felicidade plena, não é não? Experimente!

ACREDITEM! É A MAIS ABSOLUTA VERDADE!

Enviada pelo Michel Calili.

 

 

ROCK E FUTEBOL SEMPRE TIVERAM UMA RELAÇÃO ÍNTIMA:

. Botafogo = Rolling Stones

Seria o maior na década de 60, se não houvesse os Beatles, ou o Santos. Teve em Satisfaction o seu Garrincha, mas hoje vive como uma sombra do que foi há 40 anos. Recentemente tocou junto com Justin Timberlake, o que representou uma queda de divisão; porém, ao tocar com o AC/DC, deu a volta por cima e retornou à elite.

. Vasco = Oasis

É meio sem graça, mas fez bastante sucesso nos anos 90 conseguindo grandes feitos. Famoso pelas sandices do seu frontman Eurico Gallagher, hoje em dia ainda consegue uns lampejos de sucesso. Mas continua sem graça.

. Flamengo = Metallica

Foi rei nos anos 80. A era Zico, ou Master of Puppets, foi marcante na história e até os desafetos reconhecem. Dos anos 90 em diante, conseguiu ainda bastante fama, embora seja visível que ao longo dos anos só tem piorado.

. Fluminense = Stone Roses

É uma bandinha legal. Ninguém odeia. Costuma ter certo prestígio entre críticos musicais/esportivos-, mas, embora famosa na Inglaterra, fora do país ninguém conhece. Resumindo, é uma banda simpática.

. São Paulo = Queen

A banda já foi eleita a melhor do mundo uma quantidade razoável de vezes. No entanto, mesmo com grande sucesso e feitos históricos, o que chama grande atenção no grupo é uma tendência um tanto quanto afeminada, não se sabendo exatamente se é elegância ou uma atitude bambi de ser.

. Santos = Beatles

Na década de 60, o conjunto era talvez o melhor que já existiu. Teve confrontos lendários contra os Rolling Stones - Botafogo - mas normalmente levava a melhor. Enquanto metade da banda já se foi, os Stones estão na ativa até hoje. Essa único ponto em favor do Botafogo talvez explique sua vitória em 95. Mas de vez em quando lançam algum som remasterizado ou algum achado histórico, que só aparecem por um tempo também, logo logo somem.

. Palmeiras = Aerosmith

Muito sucesso no passado, depois ficou de lado por um bom tempo... daí fez uma parceria com a Parmalat-Run-DMC e voltou ao destaque, se mantendo nele por um tempo. Chegou até perto do topo do mundo, mas não teve sorte. Agora voltou a ficar de lado.

. Corinthians = Linkin Park

Embora nunca tenha conseguido nenhum grande feito em sua história, tem uma legião de fãs, fiéis e chatos. Ao mesmo tempo, tem uma quantidade enorme de gente que odeia. Talvez a única vez que consiga ser o melhor do mundo seja em mundiais fajutos como o de 2000 mesmo.

. Atlético-MG = Pink Floyd

Teve seu auge na década de 70 e foi pioneiro no Rock Progressivo (tal qual o Galo foi o primeiro campeão brasileiro). Embora tenha saído da grande mídia por um bom tempo continua amado e idolatrado, inclusive pelas novas gerações que nunca os viram tocar. Os bastidores da banda sempre foram complicados levando à inevitável separação do grupo. No Galo os problemas de bastidores levou o time a acumular uma dívida gigantesca e cair pra segundona. Os dois se assemelham também na multidão que arrastam em suas apresentações e com o mesmo som antigo ainda emplacam no sucesso.

. Cruzeiro = Village People

Embora faça grande sucesso até hoje, sempre foi mais conhecido pelo apelo homessexual de seu estilo do que pela suas canções. Têm um grande feito em comum que estampam com muito orgulho, embora seja motivo de zoação para os demais, YMCA é a "triplice coroa".

Saudações atleticanas

 

 

Salve salve os heróis alvinegros


Por Silvana Campos de Freitas (após a vitória do galo 4x0 sobre o cruzeiro em 29/04/2007)


Salve, salve os heróis alvinegros! Salve, salve o clamor e a alegria dessa heróica torcida alvinegra.

Somos campeões da esperança, da fé e da raça alvinegra, e nesta tarde do mês 4 (quatro), “abril” em nossos corações o sentimento de campeões. Quanta beleza, quanta garra, quanta vontade nossos 11 heróis protagonizaram em campo. A massa atleticana, essa tão honrada camisa 12, agradece, sentindo-se realmente de “alma lavada” por tanto tempo de espera.

Futebol não é riqueza, não é ostentar milhões frente à mídia, não é simplesmente apresentar uma constelação de estrelas pré-constituídas antes do jogo. Futebol é arte, é o saber-fazer na hora certa, é ter a certeza de que jamais somos inferiores. O importante é reter na memória que a grandeza atleticana é tão extraordinária, que torna-se impossível ser ignorada por leigos e/ou especialistas. Quanto às estrelas do futebol, o brilho só reluz sobre aqueles que jogam com a alma, com raça, e, principalmente, impulsionados por milhares de apaixonadas estrelas, reluzentes e repletas de fé, que batem um bolão sobre as arquibancadas do Mineirão.

O mês 4 está findando, mas “abril” nos corações de todos os atleticanos o mais puro e memorável sabor de felicidade. Foram 4 célebres gols nesta tarde do mês de abril, a massa pôde sentir seus corações pulsar fervorosamente 4 vezes. Não tem como negar o gostinho de campeão que está apenas a um fio da realidade.

O mês 4 está se despedindo de 2007 e os atleticanos entram no mês 5 com um 4 gravado na memória. A alegria é merecida, os gols foram mais do que um presente àqueles que mantém viva a alma atleticana. Que no próximo final de semana do mês 5, o mês de maio, que é dedicado às mães, às noivas e para os milhares de católicos o mês de Maria. Aos milhares de torcedores atleticanos o mês cinco, que possui apenas 4 letras, será também o mês da vitória alvinegra.

Sob a ótica de nosso respeitável mestre Zagallo, entre supertições e trocadilhos, acho que ele chegaria à seguinte conclusão: o mês de maio é dedicado a três grandes estrelas: MAE, MARIA e NOIVA, somando as letras dessas três estrelas temos o número 13, portanto, ganhamos de 4 a 0, com certeza “abril” para os atleticanos a chance de serem campeões em maio.

O espírito de “já ganhou” não faz bem a ninguém, respeitar o adversário é bom, mas ganhar de 4 X 0 não tem preço, razão pela qual temos que aproveitar a energia que o momento trás, vamos comemorar, extravasar toda a emoção que está dentro de cada um de nós. O futuro não nos pertence, mas acreditamos na vitória sempre, afinal, o galo “abril” 4 gols de vantagem.


“Cantar de Galo”

Por Silvana Campos de Freitas e Silva
Contato: silvanasilks@yahoo.com.br

“Cantar de galo”, expressão comum utilizada para denotar certa superioridade em relação a determinado fato.
“Cantar de galo” expressão que também consegue exteriorizar com fidelidade a alma atleticana.
Os atleticanos vivem num “cantar de galo” constante, mas isso não é novidade, somente seres com uma alma elevada, de espírito iluminado, podem colocar o amor acima de tudo.
Quem foi que disse que o amor não suporta tudo? Que grande mentira nos contaram! Há somente uma verdade a ser dita, cantada e ouvida em todo o mundo: o “cantar de galo” do Clube Atlético Mineiro”. Não há crise que faça calar a nossa voz, pois temos no peito a esperança e a certeza de que o galo nos levará, em breve, a um momento impar.
O tapete verde que cobre os gramados, de todo o país, cinge também o coração alvinegro. Ao entrar em campo, nossos jogadores não pisam em um simples gramado, esse toque possui a magia de renovar o verde da esperança que está estampado em cada coração atleticano.
A nação atleticana não mede esforços para “cantar de galo”, fazer ecoar aos quatro cantos do mundo: “Nós somos do Clube Atlético Mineiro...”. Temos orgulho do que somos e amamos nossas escolhas, essa é a razão desse cantar que se faz ouvir em todo o mundo. Para um leigo, ao ouvir tantas vozes alvinegras espalhadas, não se pode imaginar que essas vozes formam um elo indestrutível, que nada mais é do que o coração do Clube Atlético Mineiro. É esse coração de aço, unido em tons diferentes, em raças diversas e em credos mil, que “canta de galo” para elevar um sonho que está acima de qualquer crise.
Falência do Clube Atlético Mineiro? Quem disse que o amor decreta falência? Somente um bando de desinformados podem especular tamanho desatino. O “cantar de galo” desconhece a empresa que norteia os bastidores do Clube Atlético Mineiro, lutamos em prol de algo que transcende a matéria. O galo traduz o amor de milhares de sonhadores, que faz desse cantar uma prece, capaz de operar milagres nos corações daqueles que vivem o sonho de ser parte do glorioso Clube Atlético Mineiro. E por falar em prece, o Brasil está unido por esse verde que representa não só a esperança, mas a vida de todos os seres que povoam esse planeta. Uma legião de religiosos estão unidos, em prece, cujo lema é “Fraternidade e Amazônia”. Conclamamos todos os corações alvinegros, sempre cingidos pelo verde da esperança, para agora deixar transparecer o verde da vida, da Amazônia. Que a bandeira alvinegra aflore esse verde camuflado, para o mundo perceber que O GALO E A AMAZÔNIA SÃO REALIDADES ETERNAS, só é preciso amor e consciência de que preservar é preciso.

 

 

 

As nuvens eram negras naquele fatídico dia de novembro". Atônitos, 40 mil
atleticanos cantavam emocionados o hino do clube, vendo onze garotos dobrar
sob uma culpa que não era deles. Caíram lutando, dando tudo. Todos
esperavam um milagre! Eu não cantava o hino. Apenas chorava... Do olimpo os
Deuses do Futebol assistiam ao castigo. Castigo sim... Pelo descaso, pela
omissão. Mas diante daquela cena, não puderam deixar de se comover. Não
podiam mexer nas engrenagens do tempo e fazer tudo voltar. Mas permitiram
que um espírito há muito distante, retornasse para honrar a tradição
daquele glorioso manto alvinegro.
Nossos adversários riram, cantaram debochando de nossa nação, da verdadeira
nação. Mas o canto deles não durou muito. Um ano que tinha tudo para ser
deles, foi nosso! O Brasil redescobriu maravilhado, a força da MASSA, que
se define sozinha!
Por NOSSA causa, outras torcidas foram para campo, numa tentativa frustrada
de superar nossa paixão. As gazelas da enseada das garças assistiram
atônita a tudo isto. Engoliram seco o grito de deboche, porque quem
debochava agora era a gente. Só saíram de sua insignificância quando se
referiram ao glorioso ou ao seu séqüito de xiitas apaixonados. Nunca a
força de um clube ficou tão evidente! Semana apos semana, todos os
noticiários de todos os canais, estampavam a foto da massa e os feitos de
um time limitado, mas unido.

Um time que se superava! Esta é a força do espírito que voltou a dar vida
ao manto alvinegro. Até aqueles que ainda devem um braço reconheceram.
Paulistas, cariocas, gaúchos e baianos reconheceram. 2006 pode ter sido
para alguns o ano da vergonha. Para mim, foi o ano mágico! O ano em que,
como a fênix, voltamos das cinzas ainda mais fortes! Transformamos a poesia
de Drumonnd, lindas palavras, em realidade! Torcemos contra o vento, que
derrotado passou a soprar ao contrário... Lembram-se daquelas nuvens negras
de novembro? Estão indo embora. Meu orgulho de ser atleticano nunca foi tão
grande!""
Autor: desconhecido

A MASSA - supostamente por Armando Nogueira

Torcidas, haverá as mais numerosas (Flamengo) ou mais conhecidas por sua grandeza (Corinthians), mas nenhum séqüito futebolístico brasileiro se compara ao do Clube Atlético Mineiro em mística apaixonada, em anedotário heróico, em poesia acumulada ao longo dos anos.

"A Massa", como é simplesmente conhecida em Minas Gerais , compartilha com a torcida corinthiana ("A Fiel") a honra de deixar-se conhecer com um substantivo ou adjetivo comum transformado em nome próprio, inconfundível.

A Fiel, A Massa: poucas outras torcidas terão realizado tal operação de mutação de um nome comum em nome próprio.

Muito distintas são, no entanto, as torcidas dos alvi-negros paulistano e belo-horizontino: quem já vestiu a camisa do time do Parque de São Jorge sabe que a Fiel é fiel em sua paixão, não em seu apoio. Na derrota, a Fiel é implacável; não desaparece, como a torcida do Cruzeiro. Está sempre lá.

Mas é capaz de crucificar com um pequeno manifestar-se de sua raiva. Na vitória, cobra cada vez mais, e reinstala aí sua insatisfação, cuja raiz quiçá esteja no mal-resolvido trauma dos 23 anos sem título, e do grande pesadelo de duas décadas chamado Pelé. A Fiel é fiel, e sempre o foi, mas sua fidelidade se nutre de um descompasso entre a alma do torcedor e a alma do time.

No caso do atleticano, a alma do time não é senão a alma da torcida.

Toda a mística da camisa, das vitórias sobre times tecnicamente superiores (e também das derrotas trágicas e traumáticas), emana da épica, das legendárias histórias que nutre sua apaixonada torcida: nem o Urubu, nem o Porco, nem o Peixe, nem a Raposa, nem o Leão, nem nenhum animal mascote se confunde com o nome do time, com sua identidade, com sua alma mesma, como o Galo com o Atlético Mineiro. E Galo é o nome da torcida (GA-LO), bissílabo cantável e entoável como grito de guerra que ela eternizou ao encarnar em si o espírito do animal. Nenhum outro time é conhecido por tantas vitórias improváveis só conquistadas porque a massa empurrou.

"Quem possui uma torcida como esta, é praticamente impossível de ser derrotado em casa" (Telê Santana).

Pelos idos de 69 ou 70, o timaço do Cruzeiro já tetra ou pentacampeão entrava em campo mais uma vez e parecia que de novo ia humilhar o Atlético, que já amargava o quinto aniversário do Mineirão sem nenhum título estadual. A superioridade técnica de Tostão, Dirceu Lopes, Natal, Raul, Piazza e cia. era simplesmente incontestável. Mesmo naquele clássico durante vacas tão magras, a massa atleticana era, como sempre foi, maioria no Mineirão. Impotente, ela viu Dirceu Lopes abrir o placar e o time do Cruzeiro massacrar o Galo durante 45 minutos. No intervalo, a Massa que cantava o hino do Atlético foi inflamada por um recado de Dadá Maravilha pelo rádio: "Carro não anda sem combustível".

A fanática multidão encheu-se de brios, fez barulho como nunca, entoou o grito de guerra como nunca, encurralou sonoramente a torcida cruzeirense, e o time do Atlético infinitamente inferior, liderado pelo artilheiro Dario e pelo seu grande goleiro (como é da tradição atleticana) Mazurkiewcz - virou o placar para 2 x 1 sobre o escrete azul, e abriu caminho para a reconquista da hegemonia em Minas, selada com o título estadual de 70 e o Brasileiro de 71. Nenhum dos jogadores atleticanos presentes nessa vitória jamais se esqueceu da energia que emanava das arquibancadas, e que literalmente ganhou o jogo.

Também as derrotas tradicionalmente contribuíram para a mística e paixão atleticana: como em 1998, quando o visitante Corinthians trouxe ao Mineirão sua máquina que se preparava para ser bicampeã brasileira e campeã mundial. O Galo se recuperava no Campeonato Brasileiro, vinha de uma vitória sobre o Grêmio no Olímpico, e a Massa mais uma vez lotou o estádio. Com seu toque de bola, o Corinthians envolveu o time atleticano, e no meio do segundo tempo já aplicava impiedosos 5 x 0, enquanto tocava a bola, colocava os atleticanos na roda e esperava o fim do jogo. Vendo seu time humilhado por um adversário superior dentro de seu próprio terreiro, massa se levantou, e cantou durante mais de 10 minutos o belo hino, mais alto e com mais amor que nunca. Nenhum jogador presente se esqueceu, e um ano depois o Galo devolveria ao Corinthians os 5 x 1 do Mineirão, com sonoros 4 x 0 no Maracanã.

Como no silêncio sepulcral que envolveu o Mineirão em março de 1977, quando a grande equipe atleticana de Cerezo, Reinaldo, Paulo Isidoro, João Leite e Marcelo perdeu nos pênaltis o título que todos já consideravam seu, incluindo-se, às vezes parece, os próprios adversários são-paulinos. O time do Atlético, mesmo jogando sem Reinaldo, injustamente suspenso, foi empurrado pela torcida, mostrou-se muito superior ao do São Paulo, como havia feito durante todo o campeonato em que acumulou 17 vitórias, 4 empates e nenhuma derrota, encurralou o adversário durante 120 minutos, mas o gol não saiu. O título é perdido nos pênaltis, mesmo depois de duas grandes defesas de João Leite em cobranças são-paulinas. Ângelo, um dos craques do jovem time atleticano, deixou a partida pisoteado por Chicão, e nunca mais seria o mesmo.

O Galo, base da seleção brasileira de Osvaldo Brandão, sai de campo vice-campeão invicto, com os 11 jogadores abraçados, 10 pontos à frente do campeão, e a Massa recebe aí sua grande tarefa dos próximos anos: realizar o luto pelo enorme trauma. Começou a tarefa no domingo seguinte às 10 da manhã, levando legiões de bandeiras para uma amarga partida contra o Bahia no Mineirão.

Nenhuma outra derrota de um favorito no Brasileirão se revestiria de tanta mística apaixonada. A partir daí essa Massa acumularia 10 títulos mineiros em 12 anos, e uma seqüência de campanhas sensacionais no Brasileirão (o Atlético Mineiro é o time que mais pontos conquistou nos Campeonatos Brasileiros), interrompidas na final ou semifinal, em jogos fatídicos (Flamengo-80, Santos-83, Coritiba-85, Guarani-86, Flamengo-87, Corinthians-88).

A magia atleticana se encarnaria no seu torcedor mais famoso, Sempre, cujo nome real não se conhece, tal é força do apelido. Durante décadas, Sempre ocupou as arquibancadas do Independência e do Mineirão, com sua bandeira e seus ditos legendários. Nunca deixou de comparecer e nunca vaiou o time, embora chorasse nas derrotas. Foi dos primeiros a entoar o hino composto por Vicente Motta em 1969, e depois aprendido por milhões em todo o Brasil. Abria e fechava o clube diariamente, e participou de epopéias memoráveis da massa atleticana, como quando a multidão carregou no colo o artilheiro Ubaldo, pentacampeão mineiro de 1956, de sunga, ao longo dos 5,5 quilômetros que separam o estádio Independência da Praça Sete, ou como quando 20.000 atleticanos invadiram o Maracanã e empurraram o time à conquista do Primeiro Campeonato Brasileiro, em 1971, sobre o Botafogo de Jairzinho.

O Furacão de 70 sentiu seu peso de novo cinco anos mais tarde, na decisão do Mineiro de 76, quando a Massa, mesmo tendo comemorado só 1 dos últimos 11 campeonatos mineiros, tomou conta do Mineirão para empurrar uma turma de meninos de 18-21 anos (de nomes Reinaldo, Cerezo, Paulo Isidoro, Danival, Marcelo) a vitórias contundentes sobre o campeão da Libertadores.

Estava aberto o caminho para o hexacampeonato de 78-83.

"Se houver uma camisa alvi-negra pendurada no varal num dia de tempestade, o atleticano torce contra o vento". O achado do cronista Roberto Drummond resume a mitologia do Galo: contra fenômenos naturais, contra todas as possibilidades, contra forças maiores, a torcida atleticana passa por radical metamorfose e se supera. Superou-se tantas vezes que já não duvida de nada, e cada superação reforça ainda mais a mística, como uma bola de neve da paixão futebolística.

Nenhum atleticano hesitaria em apostar na capacidade da Massa de transformar o impossível em possível a qualquer momento, de fazer parar aquela tempestade que açoita o pavilhão alvi-negro deixado solitário no varal.

Não surpreende, então, o sucesso que tiveram os jogadores uruguaios que atuaram no Atlético Mineiro, do grande Mazurkiewcz ao maior lateral-esquerdo da história do clube, Cincunegui. Se há uma mística de garra e amor à camisa que se compara à atleticana, é a da celeste, não mineira, mas uruguaia. Só à seleção uruguaia a pura paixão por um nome e um símbolo levou a tantas vitórias inacreditáveis, improváveis, espíritas, ou puramente heróicas. Em 1966, as duas camisas legendárias se encontraram, e o Galo derrotou o Uruguai duas vezes (26/04/66 - Atlético 3 x 2 Uruguai, 18/05/66 - Atlético 1 x 0 Uruguai).

Ao contrário das torcidas conhecidas por sua origem étnica (Palmeiras, Cruzeiro, Vasco), por sua origem social (Flamengo, Fluminense, Grêmio, São Paulo), ou por seu crescimento a partir de uma grande fase do time (Santos), qualquer menção da torcida do Atlético Mineiro evoca, invariavelmente, substância mesma que constitui o torcer. O amor ao time na vitória e na derrota, o apoio incondicional, a garra, a crença de que sempre é possível virar um resultado, o hino entoado unissonamente: a legião fanática que ama o Galo acima de tudo sabe que ser atleticano é unir-se num estado de espírito, compartilhar uma memória, e fazer da esperança uma permanente iminência.

A massa atleticana é a prova maior de que, mesmo em época de profissionalização total do futebol, e do negócio futebol, para o povo brasileiro este é acima de tudo paixão por uma cor, um nome, um símbolo, a memória de um instante que pode ser um gol, um campeonato, um abraço ou um beijo. Galo é o nome que mais radical e verdadeiramente expressa, para tantos milhões de brasileiros, o inexplicável dessa paixão.

O Galo é o único clube a ter vencido a Seleção Brasileira. E não foi qualquer uma. Ela entrou em campo com Felix, Carlos Alberto, Djalma Dias, Joel e Rildo (Everaldo); Piazza e Gérson (Rivelino); Jairzinho, Tostão Zé Maria), Pelé e Edu (Paulo César). O Galo venceu com Mussula, Humberto Monteiro, Grapete, Normandes (Zé Horta) e Cincunegui (Vantuir); Oldair e Amauri (Beto); Vaguinho, Laci, Dario e Tião (Caldeira).

 

O SONHO ALVINEGRO Autora: Silvana Freitas

Santa Luzia - Minas Gerais

Nem sempre o mais rico nos oferece o melhor.Nem sempre o mais forte nos oferece a proteção adequada.Nem sempre o mais belo nos encanta.Nem sempre “eu te amo” nos proporcionará a eternidade que almejamos em uma relação.Nem sempre a pessoa amada de hoje será a mesma de amanhã.Nem sempre a decepção matará o amor, pois a esperança e o desejo imensurável de viver um sonho, são capazes de resgatar o que pensávamos ter morrido dentro de nós.Essas linhas singelamente traçadas exprimem a alma atleticana, pois extraímos do fraco uma grande fortaleza;Permitimos que a beleza seja esculpida a cada partida; O desgaste de um relacionamento comum não se aplica na relação torcedores X galo; Já dizia o admirável poeta “(...) a gente muda de tudo na vida. Só não muda de time (...)”, portanto, podemos dizer com toda a certeza, que o time amado de hoje, será o mesmo de amanhã e sempre; A decepção é apenas mais um motivo para fazer da grande nação atleticana um único elo de
ligação rumo ao sonho alvinegro, um sonho que momentaneamente não será ornado por títulos oficiais, mas que levará cada coração atleticano a bater mais forte por essa interminável história de amor, que exprime toda a raça e fidelidade de uma torcida.Os atleticanos sabem que não estão à disputa de títulos, sabe-se apenas que a cada semana haverá um grande espetáculo, cujo autor principal é um símbolo alvinegro, que desperta paixões e que a cada jogo bate recorde de público. O prêmio final? Não há preocupações quanto a isso, pois a cada partida, os atleticanos sentem-se premiados pela demonstração de amor e fidelidade, que são capazes de dedicar, para elevar aquele que no passado desfrutou de incontáveis momentos de glórias e que hoje desfruta apenas de sua maior conquista: a glória de ter uma grande torcida.21 de outubro de 2006.